sexta-feira, 27 de maio de 2011

PPP instrumento que norteia o processo educativo

As escolas têm autonomia para elaborar seu projeto pedagógico, mas dentro das normas, regras da LDB dentro de suas condições e dentro de sua realidade.
A escola só haverá transformação quando envolver nas propostas pedagógicas professor, pais, alunos e demais funcionários nas suas discussões.

Produção e apresentação das atividades do módulo III

o modulo III nos traz
muito conhecimento
E muita reflexão
Dividindo as tarefas
E buscando interação
Entrevistando Ricardo Coordenador Logisitico
O encontro hoje nos desafiou trazendo muitas leituras Com vários textos de valor.

O PPP da escola é um planejamento das diversas ações retrata identidade e busca soluções.
A participação coletiva do PPP constrói cidadania e exercício da autonomia

Como construir coletivamente o projeto pedagógico?

Este módulo Como construir coletivamente o projeto pedagógico aborda os vários movimentos de construção do projeto pedagógico. contamos com a participação do coordenador logístico Ricardo Oliveira orientando e tirando as dúvidas sobre a construção do PPP nas escolas municipais. E a cada tópico estudado teciam-se comentários reportando-os sempre a revisão do projeto que está sendo feito nas escolas.

O Módulo III trata das possibilidades que a escola tem de organizar coletivamente o seu trabalho pedagógico, buscando cumprir, de forma democrática, sua função social. Durante os estudos e explanação dos trabalhos os cursistas puderam perceber a importância da organização coletiva no projeto pedagógico, sua definição, bem como dimensões e princípios que orientam sua construção.


Oficina de produção de cartazes com imagens: A escola que temos - A escola que queremos.
Estudo individual (leitura reflexiva do módulo)

FOLDER DO ENCONTRO DO MÓDULO III

ENCONTRO DO MÓDULO III
Como promover a construção coletiva do projeto pedagógico da escola?
QUIJINGUE/ALGODÕES-BA
Tutores:
Quijingue: Mª do Carmo Amambahy
Algodões: Iara Batista Damascena
GLAÚCIA VARELA
multiplicadora regional
RICARDO OLIVEIRA
coordenação/progestão
ecretaria Municipal de Educação
QUIJINGUE-27 de Maio DE 2011

“o projeto da escola depende, sobretudo, da ousadia dos seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-se como tal, partindo da “cara” que tem, com o seu cotidiano e o seu tempo espaço, isto é, o contexto histórico em que ela se insere. projetar significa “lançar-se para a frente”, antever um futuro diferente do presente.projeto pressupõe uma ação intencionada com um sentido definido, explicito, sobre o que se quer inovar”
Moacir Gadotti
Realização
Prefeitura Municipal de Quijingue

Promover a construção coletiva do projeto pedagógico, articulando-o às várias formas de planejamento do trabalho da escola.
PPP
Toda escola tem objetivos que deseja alcançar, metas a cumprir e sonhos a realizar. O conjunto dessas aspirações, bem como os meios para concretizá-las, é o que dá forma e vida ao chamado projeto político-pedagógico - o famoso PPP. As próprias palavras que compõem o nome do documento dizem muito sobre ele:

- É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo.

- É político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir.

- É pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem.

Ao juntar as três dimensões, o PPP ganha a força de um guia - aquele que indica a direção a seguir não apenas para gestores e professores mas também funcionários, alunos e famílias. Ele precisa ser completo o suficiente para não deixar dúvidas sobre essa rota e flexível o bastante para se adaptar às necessidades de aprendizagem dos alunos.

PROGRAMAÇÃO
MATUTINO
1.Acolhimento- vídeo “Sementes” 8:30
2.Introdução do módulo III – Como promover a construção coletiva do projeto pedagógico da escola? (Em forma de cordel) 8:40

3.Oficina de produção de cartazes com imagens: A escola que temos - A escola que queremos. 9:10

4.Estudo individual (leitura reflexiva do módulo) 10:10

Intervalo 11:00

5.

Representação do PPP através de pintura 11:10
Grupo 1- Valores e missão da escola
Grupo 2 - Perfil da escola
Grupo 3- Perfil da comunidade
Grupo 4- Visão da avaliação
Grupo 5- Currículo
Almoço

VESPERTINO
6. Exibição do vídeo módulo III 13:30
7. Entrevista com Ricardo Oliveira responsável pelo PPP no município de Quijingue-1:50
8. Exposição teórica 15:00
Texto Complementar “Orientação para elaboração do PPP” 15:30
Intervalo
9. Orientação da atividade devolutiva no caderno de atividade do módulo IV /(seminário PPP) 16:00
10. Sensibilização do módulo IV e os informes 16:30
11. Encerramento – Avaliação e Gaivotas–vídeo 17:00


[...] Para que o gestor escolar consiga enfrentar mudanças significativas que elevem o padrão da escola, é preciso que ocorra uma mudança radical na atitude das pessoas, com o objetivo do que as mesmas passem a encarar a inovação como um desafio e sintam se estimuladas pela inovação pessoal e, assim, se tornem capazes de ir alem dos seus próprios limites. (Heloisa Luck)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Brasil de 2020


O futuro nos interroga. O que esperar do Brasil
em 2020? Existem três formas básicas de se tentar preencher
o vácuo do futuro. A previsão trabalha com a noção de
provável e responde à pergunta: o que será? A delimitação do
campo do possível opera com a idéia de exeqüível e responde
à pergunta: o que pode ser?
E a expressão da vontade trabalha com a noção de
desejável e responde à pergunta: o que sonhamos ser? As
relações entre esses três modos de conceber o futuro não são
triviais. Se o desejável é não respeitar os limites do possível,
ele se torna vazio e quixotesco (quando não trágico). Mas
isso não é tudo. No universo das relações humanas, tanto o
exeqüível como o provável dependem muito da força e da
competência do nosso querer. Se o sonho desligado da
realidade não vinga, a realidade desprovida de sonho definha.
Dezessete anos nos separam de 2020. Seria utópico
(no mau sentido) imaginar que o Brasil conseguirá, nesse
curto intervalo de tempo, superar por completo as suas
mazelas de ordem material. Temos 503 anos de história pelas
costas. Nossos problemas seculares de convivência
prática — saúde, educação básica, privação, violência e
desigualdade — não se prestam a curas milagrosas e
arroubos voluntaristas. Grandes avanços, é claro, podem e
devem ser feitos. Mas não existem atalhos.
Um Brasil 2020 que mereça ser sonhado não pode
ser mera fabulação da imaginação caprichosa. Ele precisa
partir do que efetivamente somos — das virtudes e dos
defeitos que se entrelaçam em nosso destino de nação.
Ele precisa reconhecer os limites e condicionamentos
herdados do passado para traçar o mapa do que podemos e o
norte do que sonhamos ser.

Eduardo Giannetti. In: Ícaro Brasil, jun./2003, p. 26-30 (com adaptações).

COMO CONSTRUIR UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA

João Everton da Cruz
A igualdade entre os participantes da gestão da escola é a condição mais importante para se pensar à possibilidade da participação e da democracia. Sem o mínimo de igualdade é impossível pensar a participação e a democracia em sua configuração prática. Poderemos tê-la no mero discurso ou na utopia, mas na prática só se tornará possível pela igualdade entre pessoas. As matrizes da igualdade, da participação e democracia, têm o seu nascimento com a sociedade dos gregos. Entre eles, a igualdade entre as pessoas era problemática. Os iguais, por serem tão iguais, viviam em busca do desigual, do extraordinário. Assim, o espaço da convivência constituiu-se como o lugar do extraordinário através da sofisticação dos discursos persuasivos em busca do destaque de cada orador. Aí se dava a única diferença entre as pessoas, pautada pela competência, no mesmo nível da “Situação ideal de fala”. (Cf.: Habermas, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio, Tempo Brasileiro, 1989, p. 89.). O desigual era sinônimo de melhor, mas competente, mais sedutor. Deveria ser seguido pelos outros.
 Já para Aristóteles era impossível pensar-se uma boa convivência. Não concebia o bem comum numa sociedade polarizada, ou seja, em que os extremos se distanciassem muito: o mais rico muito distante de mais pobre, o mais culto do mais estulto, o mais velho do mais novo, o mais poderoso do menos. Seria preciso construir uma sociedade em que se plantasse o ponto mediano , pois a virtude está no meio.
Uma reflexão sobre a relação entre a cidadania e democracia, remontando-se à democracia como um verdadeiro trabalho dos seres humanos nas suas relações sociais. A democracia não pode ser comprada nas urnas eleitorais. É preciso pensar nas possibilidades de se viabilizar a democracia. Esta poderá ser uma das melhores formas de governo se, e somente se, for constituída por uma sociedade de cidadãos.
Maquiavel ao definir a política como “ciência do poder”, apreendeu que a vida política resume-se na busca de poder e na luta do poder pelo poder. Porém, o ser humano não se resume ao nível do ordinário somente. O ser humano é também extraordinário por que trabalha. Em nível da extraordinariedade destaca-se a insatisfação do ser humano com as coisas estabelecidas.
Na modernidade, esta insatisfação acontece com o poder estabelecido para favorecer poucos. Nem sempre, porém, os seres humanos conseguem elaborar a sua insatisfação, sabendo apenas que as coisas não vão bem, mas o que fazer sem sempre se sabe. Perguntamos: O que fazer? Quais os passos para a constituição de cidadania, participação e democracia?
Sabemos que a modernidade criou a figura da representação. Pois bem, falar de democracia, no seu sentido originário, é falar de democracia direta, como pensavam e queriam os gregos. A presença de qualquer representação macula esse conceito. Continua o problema. Como se pensar uma democracia direta em sociedade complexas como a moderna? Rousseau já tinha visto que é preciso pensar a democracia direta e vislumbrou algumas características particulares:
1. Existir um estado muito pequeno, no qual fosse fácil reunir o povo.
2. Evitar acumular questões e discussões difíceis, espinhosas.
3. Bastante igualdade entre as classes e as fortunas.
 4. Pouco ou nada, ao mesmo tempo para o rico e para o pobre, um movido pelo desejo de posse, o outro pela cobiça. Estamos distante de uma possibilidade de se estabelecer uma democracia direta. É o papel central de educação, descortinar horizonte, tendo em vista o bem comum, processo de longa duração, mas “utopia possível”. Um povo consciente saberá tomar decisões por si mesmo e para si. Trata-se, aqui, de uma conscientização cívica, a ser difundida pelos meios de comunicação, através de formadores de opinião.  No ato de viabilizar esse processo seria um problema complexo. O poder estabelecido colocaria barreiras. Mas, da parte do povo, a consciência de seus deveres e de seus direitos está exigindo uma educação política para a cidadania. Cabe, ainda, elaborar a esperança, como um produto de valor educativo-depurador do sofrimento dos excluídos. Sugestões pedagógicas para a construção da gestão democrática da educação. “Primeiro, deve-se montar algo parecido ao antigo programa da Rede Globo, Você decide na sala de aula, abordando uma decisão política. Sensibilizar os estudantes, anteriormente, a respeito do tema em questão.
 Segundo, sugerir aos estudantes que façam uma pesquisa sobre o interesse do povo nas questões políticas, sua visão sobre os representantes políticos e seu desejo de mudanças políticas, procurando medir o nível de consciência do povo.
Terceiro, trazer de volta o teatro para dentro da escola, dramatizando com um grupo de estudantes a democracia grega e com outro a corte do príncipe de Maquiavel. Compará-los com a modernidade e a possibilidade de superação da modernidade.
Quarto, oferecer elementos para um novo exercício da política a partir do pobre e do excluído. Quinto, clarear ao máximo, a ligação da política com o cotidiano das relações comunitárias e eclesiais.
Sexta e última, estimular a militância política e o exercício de cargos políticos, revisando permanentemente a prática do poder. A gestão democrática é fundamental para a definição de políticas educacionais que orientam a prática educativa, bem como revitaliza os processos de participação, dentro dos parâmetros definidos no “chão” da escola pública e é um canal no processo de democratização, na medida em que reúnem diretores, professores, funcionários, estudantes, pais e outros representantes da comunidade para discutir, definir e acompanhar o desenvolvimento do Projeto Político-Pedagógico da Escola.

Autonomia da Escola: Possibilidades, Limites e Condições

Para iniciar uma reflexão deste texto de Mello, buscamos no dicionário Aurélio, o significado da palavra autonomia e que pode ser compreendida como:
- Faculdade de se governar por si mesmo.
 Direito ou faculdade de se reger (uma nação) por leis próprias.
- Liberdade ou independência moral ou intelectual.
 - Condição pela qual o homem pretende poder escolher as leis que regem sua conduta.
Mello propõe neste capítulo de seu livro uma discussão sobre a importância da autonomia da escola no processo de desenvolvimento da educação básica e os aspectos centrais envolvidos na questão. Sabe-se que muitas escolas têm autonomia ligada ao poder político a qual fere suas possíveis vontades, ou seja, a autonomia se torna limitada para tais escolas, pois dependem sempre de um poder acima da mesma.  Verifica-se que o crescimento da autonomia nas escolas tem tido um resultado jamais esperado, estudos de muitos pesquisadores as quais veremos no decorrer deste trabalho, confirmará isto de forma bem clara.
Esta autonomia citada por Mello, quer mostrar o quanto faz-se necessário uma construção da identidade  escolar própria. Isto significa que a escola precisa buscar e construir sua própria identidade. Esta idéia coincide com o ser humano, o homem precisa buscar sua própria identidade e formar seu caráter. É nesta perspectiva que a autora desafia neste capítulo de seu livro, uma nova proposta educacional, visando a construção desta autonomia frente a sua identidade.  Num primeiro momento, Mello fala sobre a Instituição Escolar: Uma identidade em construção. Verificamos que a autora refere o ensino precisa melhorar no sentido de seus objetivos principais, fortalecendo e ampliando o espaço de iniciativa da escola. É fundamental que a escola tome uma atitude, comece a tomar decisões, ter ousadia, ou seja, iniciativa. Com isto torna-se necessária uma reorganização da administração escolar. Nomeada pela autora como caixa preta, a escola se tornou objeto de estudo e de ações renovadoras, embora a escola não apresentasse autonomia, mas já era possível se preocupar com a organização e o funcionamento interno da escola.
Os elementos que se tornaram objetos de estudo a partir do anos 60, se relacionava contudo com o sistema educacional proposto na época, ou ainda, o sistema econômico, a preocupação didático-metodológico. No entanto, os educadores pós-guerra, tinham interesse renovador com os elementos educacionais como: currículos, programas, métodos de ensino, materiais didáticos, formação de professores etc.
Após 1968, estudos surgem na Europa com as teorias crítico-reprodutivo. No Brasil o trabalho mais conhecido foi o de Baudelot & Establet, os quais criticaram a escola, demonstrando que a passagem por ela não mudava o destino das classes sociais. Eles estudaram assim como Skinner propunha, ou seja, que estudasse o comportamento humano: assumindo tudo aquilo que acontece no organismo mas não pode ser observado e submetido a experiências.
Diante destes estudos, na década de 70 muitos pesquisadores começam a indagar se a escola faz diferença? Embora muitos estudiosos acreditavam que sim, outros acreditavam que não. No Brasil, alguns ensaios teóricos e estudos empíricos, também se empenharam com diferentes graus de sucesso, em resgatar a importância da escolaridade para as estratégias de vida das classes sociais desfavorecidas, chamando então, atenção para a importância da organização interna da escola como determinante poderoso do desempenho dos alunos.
REVERSÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA: A ESCOLA COMO UNIDADE DE ANÁLISE
De acordo com Mello, depois da pergunta se a escola faz diferença, a autora ainda mostra mais um caso interessante. Nos E.U.A e na Inglaterra a indagação feita foi: qual escola está fazendo diferença, isto é, está conseguindo ensinar bem a alunos de nível sócio-econômico desfavorecido?. Esta é uma questão que poderíamos indagar ainda hoje, pois são poucas as instituições que conseguem ser diferença e fazer com que seus alunos aprendam.
Nesta questão analisada por Mello, apresenta alguns fatores que deve se levar em consideração em relação a pergunta feita por estudiosos nos E.U.A e Inglaterra, pois na classe econômica de alunos desfavorecidos acredita-se que exista outros fatores que implicam para não obter sucesso no desempenho do aluno, tal como os fatores internos da escola: tamanho das classes, salário dos professores, presença de livros, prédio escolar, existência de programas compensatórios.
As características das escolas que são capazes de ensinar alunos mais pobres são apresentados da seguinte forma pela autora:
- estrutura institucional: a gestão e o processo de tomada de decisões no nível da escola e, em muitos casos, no nível regional ou distrital;
- os processos de mudança na forma de operar da escola e da sala de aula;
- condições que favorecem ou dificultam a implementação de inovações ou programas de melhora eficácia. (Mello, p.127,2002).
Tais características são fundamentais para que o sucesso do desempenho do aluno seja realmente alcançado e a partir disso podemos pensar também na primeira questão já citada neste trabalho a qual a autora apresenta a indagação: a escola faz diferença?. Acreditamos que quando existe uma escola que na sua estrutura interna a mesma esteja preparada para ter iniciativa, com certeza estas questões feitas por estudiosos seriam respondidas.
Estudos precursores, tentativas de políticas: surge o conceito de padrão da gestão da escola.
Mello fala a respeito de vários estudos feitos por pesquisadores principalmente dos E.U.A e Reino Unido, sobre a utilização de outras abordagens para estudar o que se passa dentro das escolas, especialmente aquelas que produzem bons resultados em relação ao desempenho dos alunos.
Destacamos os trabalhos de Weber Sumers e Wolf e Goodlad, que apesar das diferenças dos métodos utilizados, a grande maioria desses estudos procurou observar a organização escolar por meio de instrumentos elaborados, avaliando o clima existente na equipe técnica e docente e o estilo de liderança do diretor. Surge na América-Latina e outros países um novo conceito a ser trabalhado, que é o padrão de gestão da escola, abarcando suas formas de organização administrativa e pedagógica; o estilo de atuação e as relação entre o agente, destacando o diretor.
Pesquisadores como Tedesco e Castro et alii, tentam identificar a partir da pesquisa feita, o que caracteriza uma boa escola. E apontam:
-escola como centro das decisões;
- recursos e poder alocados no nível da escola;
- responsabilidade e prestação de contas pela direção;
- mecanismos de controle e avaliação;
- pais e mantenedores que se preocupam e controlam a qualidade do serviço educacional.
Mas a autora ainda apresenta outras implicações de padrão de gestão da escola. Ela ressalta que tem ampla e profundas alternativas. São elas:
1ª - Reversão da dinâmica do funcionamento do sistema;
2ª - Reorientação dos padrões de financiamento e alocação de recursos;
3ª - Mudanças na forma como vêm sendo estruturadas e regulamentadas as carreiras dos profissionais de educação.
AUTOMIA DA ESCOLA
Contexto e alguns pré-requisitos Segundo a autora, autonomia da escola não seria pensar em utopia e sim numa estratégia educacional, sendo possível e negociável. Podendo no entanto, ser pensado desta forma, estabelece a idéia de que se poderia oferecer ensino de melhor qualidade.
Às vezes isto não ocorre porque a política que dirige o sistema educacional não permite que tal autonomia seja consolidada e assim dificulta no processo de melhorar a qualidade de ensino que está sendo pregada em escolas.  Dentro do contexto e alguns pré-requisitos verificamos que a valorização do fortalecimento e autonomia de unidades que executam atividades-fim das grandes organizações não é um fenômeno que ocorre apenas na educação.
Autonomia da escola e qualidade de ensino
No que diz respeito a qualidade de ensino, muito se tem discutido e até mesmo as escolas tem se prontificado em realizar uma melhoria na qualidade de ensino, desde que a escola realmente exerça um papel de autonomia é possível se chegar a esta etapa, a qual consideramos importante.
Conforme a autora coloca neste capítulo, é difícil de compreendermos o sentido qualidade de ensino, pois tal enfoque é amplo demais para definirmos uma única idéia ou conceito. Mello então apresenta algumas idéias: é preciso distinguir a qualidade da oferta do serviço educativo da qualidade do produto. Ainda que ambas estejam associadas, a primeira diz respeito às condições de funcionamento das escolas; a segunda, aos perfis de desempenho que os alunos deveriam apresentar para que a ação da escola pudesse ser considerada bem-sucedida em cada ano ou etapa da escolarização. (Mello, p.140,2002). Portanto, é necessário que pessoas envolvidas na área da educação tenham esta consciência, pois muito se fala em qualidade de ensino, mas pouco se sabe a respeito.
A ESCOLA DECIDINDO SOBRE O QUE IMPORTA
A partir do momento que a escola tem autonomia para propor um trabalho diferenciado, faz-se importante lembrar que a escola também pode e deve decidir sobre o que importa pra ela. Não adianta a escola ter um projeto político pedagógica e apresentar um trabalho que seria impossível sua realização.
Como seria interessante se a escola realmente cumprisse o que está proposto em seu projeto. Mas isto ainda está longe de acontecer. A escola decidir sobre o que importa implica em oferecer necessidades básicas para o funcionamento do estabelecimento e também preocupar-se em ofertar uma melhora na qualidade de ensino e serviços prestados, como por exemplo: treinamento de professores, material didático, condições de carreira e salário dos profissionais, equipamentos, materiais permanentes e muitos outros.
Por outro lado, a capacitação de professores, deve ser repensada, muitas escolas oferecem sim a capacitação para professores, mas de forma inadequada, desvalorizando o seu profissional e não chegando a lugar algum. A autora fala de um exemplo bem comum nas escolas que ainda acontece de forma sutil, que são as estratégias de capacitação que têm como sistemática um corte horizontal de todas as escolas, em geral por componente curricular. Desse modo, um mesmo treinamento é oferecido a todos os professores de uma mesma disciplina, originários de escolas extremamente heterogêneas.  A experiência do Grupo Positivo de Ensino, é a melhor estratégia de capacitação hoje realizada por todo o Brasil. Segue a idéia da autora que fala:
Experiências de treinamento onde a própria instituição escolar e o conjunto de sua equipe docente, técnica e administrativa sejam unidade de programas de capacitação, planejados a partir das dificuldades por elas detectadas para executar seu projeto pedagógico, só agora começam a ser pensadas. (Mello, p.142,2002). Sem dúvida é preciso que a capacitação de professores seja urgentemente melhorada para que o sucesso escolar seja alcançado.
Recursos humanos
A importância de a escola ter autonomia também implica no poder de ordem para os Recursos Humanos, setor fundamental para o bom funcionamento de qualquer instituição ou estabelecimento. O que ainda não é possível para as escolas é ter o poder para contratar seus profissionais de acordo com o que requer sua proposta pedagógica e perfil da escola. Mello, destaca este ponto como fator de influência política:
As políticas homogêneas de carreira e salário do magistério foram um dos fatores determinantes para debilitação das escolas. Normas de recrutamento, de nomeações, de admissão e demissão, negociadas diretamente pelos sindicatos e administrações centralizadas no ensino, tornam muito difíceis às escolas adotarem decisões responsáveis sobre aspectos cruciais de sua organização, como currículo, uso do tempo, perfil de profissionais adequados às suas propostas de trabalho. (Mello,p.143,2002).
É bem visível que a autonomia pode ser fundamental até mesmo para o trabalho de recursos humanos, o qual pode ter a liberdade para criar uma equipe tanto administrativa como pedagógica a altura de sua proposta e coincidindo com o perfil da escola.  A questão da autonomia da escola requer atenção especial em relação a conquista de  estabilidade, salário por parte dos professores. Mas isso se torna de acordo com Mello: uma verdadeira camisa-de-força para as escolas e sistemas de ensino que dispõem a inovar e tomar iniciativas quanto às suas formas de organização. Na prática, no entanto, cada escola acaba adotando um conjunto de normas e mecanismos informais de ajustes entre as ordenações homogêneas externas e suas necessidades internas. (Mello,p.144,2002).
É bem comum vermos que muitos professores não estão preparados para atuar. Assim, tendo a escola poder para administrar, Mello apresenta:
No caso do direito à estabilidade ou vitaliciedade na carreira docente, seria de todo desejável que não estivesse preso a postos específicos nas escolas, mas sim ao nível de sistema. Dessa forma, se a escola quiser dispensar um professor ou técnico, ela poderá faze-lo, desde que seguindo normas estabelecidas de justificativas e explicações de motivos, colocando o profissional á disposição da administração central a quem caberá realocá-lo (Mello,p.144,2002). Se as escolas tivessem a autonomia proposta pela autora até agora apresentada neste trabalho, pode-se pensar que seria vantajoso o sistema de escolher seus profissionais para atuarem, bem como estruturar toda a organização escolar.
Existe hoje no Brasil e muito comum, a contratação de profissionais por curto prazo de tempo. Mello enfatiza algo bem interessante sobre isto: Nessa caso, seria muito importante que a escola tivesse maior margem de decisão sobre o tipo de profissional a ser contratado, dentro de diretrizes mínimas fixadas pelo governo estadual e municipal. (Mello,p.145,2002). É bem comum esta prática de contratação curta, até porque financeiramente se torna muito mais barato. O risco que as instituições corre é quanto a competência deste profissional, a produtividade e responsabilidade do mesmo, por isso, a importância da escola decidir sobre este profissional que deve ser contratado para que realmente estejam presentes nas escolas pessoas comprometidas, competentes e com o mesmo objetivo educacional que a escola quer chegar.
Enfim, a autonomia da escola tem que se revelar não apenas uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade e promover a equidade, de acordo com Mello: Ela tem que se tornar vantajosa quanto a seus custos e benefícios políticos, em conjunturas político institucionais concretas, nelas incluída, com destaque, a negociação permanente dos interesses presentes. (Mello,p.165,2002). É impossível trabalhar a autonomia da escola sem criar as possibilidades, impor os limites e oferecer as condições necessárias para se obter sucesso no desenvolvimento do cotidiano escolar e educacional.
Referência
MELLO, Guiomar Nomade. Cidadania e competitividade de: desafios educacionais do 3º milênio. São Paulo. Cortez. 2002.




Todos pela qualidade gestão escolar

A forma como a escola usa o espaço, as relações interpessoais e a interação com a comunidade também são importantes na Educação das crianças. Escola limpa, bem conservada e equipada, com espaços adequados, equipe comprometida e comunidade atuante em seu cotidiano. Todos esses fatores são parte do que se entende por uma boa escola. O que nem sempre fica claro entre os integrantes da equipe, porém, é o objetivo primordial de buscar um ambiente como esse: oferecer condições para que as crianças, de fato, aprendam. Para que a gestão escolar seja bem-sucedida, cada medida tomada deve considerar esse preceito, funcionando como um verdadeiro filtro para todas as ações.
A maneira como diretor, professores e funcionários enxergam os alunos é outro ponto que pode determinar o funcionamento do ambiente. "É muito comum vermos equipes que parecem lidar com alunos invisíveis, condenados a usar banheiros sujos, comer com o prato na mão, de quem se pode falar mal em sua frente, como se não estivessem lá. O que existe é uma responsabilização do aluno (que é visto como quem depreda, é mal-educado) ou da comunidade (que é carente e violenta) pelas más condições da escola."
O gestor é o responsável pela criação de um ambiente acolhedor, que viabilize o trabalho educacional, cumprindo o projeto pedagógico da escola. Mas é essencial que ele envolva equipe, pais e alunos em torno desse objetivo. "Todos os atores da comunidade escolar ensinam e aprendem. E os espaços e práticas atitudinais também educam".
Por isso, o diretor deve estar muito atento ao que se transmite "nas entrelinhas" dos processos e das relações interpessoais que se estabelecem na escola. Seu desafio é o de coordenar diferentes gestões - equipe, espaços, parcerias, recursos - para promover a aprendizagem das turmas. "As questões burocráticas e administrativas são apenas meios para concretizar as propostas pedagógicas",
Nessa abordagem, o olhar do gestor se volta fundamentalmente para três eixos: a organização dos espaços da escola (não só o das salas de aula), a mobilização de uma equipe coesa (que trabalhe para alcançar uma proposta pedagógica definida) e o estabelecimento de um canal de comunicação com pais de alunos e a comunidade do entorno. Embora ninguém afirme que isso seja tarefa fácil, aplicar essa teoria no dia-a-dia talvez não transforme a instituição numa escola dos sonhos, mas certamente trará resultados positivos sob todos os aspectos.
Seja qual for o contexto em que se insira, a escola é, por definição, um local de aprendizagem. Mas o que ensina cada um de seus espaços? Salas de aula, locais de merenda, áreas de lazer, corredores e banheiros ajudam a construir e consolidar muitos valores. Se os alunos vêem que o banheiro está sempre sujo, se sentem menos estimulados a cuidar da higiene. "O diretor deve ver no respeito a locais públicos um valor a ser ensinado na prática e cuja importância deve ser trabalhada sempre.
O uso de todos os espaços da escola, refletindo sobre sua forma de organização e buscando condições que promovam a aprendizagem tem de ser uma pauta constante da equipe escolar. "No contato com as Secretarias para a obtenção de recursos, o grupo que defende uma proposta de aprendizagem envolvida na melhoria de espaços dispõe de um argumento de peso e se a proposta for boa, pode ser estendida a outras instituições de ensino."
Sabemos que a infra-estrutura é essencial  no desenvolvimento dos estudantes por isso  pensando no comportamento dos alunos de sua escola durante as refeições, proponho uma reflexão à equipe de professores e funcionários. O que as crianças aprendem com a forma como são servidas as refeições? Como comiam em pé, brincando ou em qualquer canto?
Em que situações se preparam uma mesa com toalha limpa, louça e flores num vaso? “Quando recebemos a visita de pessoas queridas e importantes”, não é verdade? “Porque não criar esse ambiente acolhedor em nossas refeições na escola para que as crianças se sintam bem recebidas e valorizadas?
Mas tudo isso depende do sentimento de colaboração entre a equipe, e à vontade de trabalhar juntos, com apoio dos gestores, equipe de professores e funcionários. A participação do "trio gestor" no planejamento, no acompanhamento e nas decisões sobre como encaminhar o projeto pedagógico em sala de aula, caso por caso, criando um ambiente de discussão focado na aprendizagem do aluno. e acompanhando de perto o trabalho de sala de aula. Com o olhar não é de "fiscalização", mas de avaliação sobre as decisões tomadas coletivamente. Tudo fluirá progressivamente para o conhecimento e aprendizagem significativa.

É um caminho interessante a ser seguido na gestão escolar. "O diretor precisa ter conhecimento pedagógico ou buscar parcerias para conseguir caminhar com os professores. "Só assim ele consegue dar sentido ao trabalho docente, fazendo cada educador se sentir parte de um grupo em que há espaço para tirar dúvidas e fazer sugestões de melhoria."
Muitas cabeças pensam melhor do que uma e idéias diferentes podem se complementar. Na escola, porém, essa lógica parece não funcionar com naturalidade. "A discordância é intrínseca à dinâmica de grupos, mas é preciso saber explicitar as divergências sem levar para o lado pessoal, "O diretor é a figura que deve coordenar esse processo e propiciar a construção de consensos, que serão sempre provisórios. “Toda decisão deve ser revista quando houver necessidade.”
Criar um ambiente de discussões objetivas e focadas no interesse coletivo pode ser uma tarefa árdua. Na escola pública, o gestor tem de lidar com o que tem - em termos de recursos materiais, de espaço e de funcionários. Diferentemente das instituições privadas, ele não tem liberdade para substituições e às vezes ainda precisa lidar com a rotatividade de profissionais, o que gera descontinuidade no trabalho.
O sentimento de grupo faz diferença: "O claro, para nós, é que o aluno é responsabilidade da escola e não de determinado professor. Assim, todo o corpo de servidores, docentes ou não, faz parte do processo educativo."
Minha sugestão sempre foi que se fizesse semanalmente reunião com a diretora sua vice e com os diferentes grupos de funcionários, equipe administrativa, de limpeza e merenda e outros, para discutir, em termos pedagógicos, os encaminhamentos de suas dificuldades. Além dos encontros de planejamento pedagógico com os professores, "Ainda promover atividades coletivas para a discussão de projetos, e oficinas. Diz professora Karmem.
Todos com certeza irão se sentir de fato, integrantes da escola, melhorando a qualidade da Educação das crianças e oferecendo à comunidade a oportunidade de um acesso de forma mais ampla. "Isso significa um enorme ganho e envolvimento no trabalho."
Cada escola pode detectar o que serve melhor à comunidade e elaborar propostas. Existem, por exemplo, as que promovem dinâmicas de grupo, brincadeiras ou atividades entre familiares e alunos, tudo para estimular o envolvimento.

O CARÁTER FORMADOR DO ESPAÇO
A infra-estrutura é essencial no desenvolvimento dos estudantes. Confira algumas sugestões que você pode aplicar na sua unidade de ensino

CONSCIÊNCIA
Com a intervenção da equipe escolar, evita-se o desperdício. Os estudantes também podem colaborar para a limpeza do espaço.

AUTONOMIA
É uma conquista quando as próprias crianças se servem de comida. Assim, exercem o poder de escolha e exercitam o respeito à vez do próximo.

CIDADANIA
Fazer as refeições sentado, partilhando esse momento com os colegas, é um valor a ser ensinado e vivenciado na hora da merenda.

COMUNICAÇÃO
Os corredores são espaços por onde todos circulam e, por isso, perfeitos para propiciar trocas entre toda a comunidade escolar.

ORGANIZAÇÃO
Trabalhos dispostos na altura das crianças favorecem a apreciação da produção dos colegas. A distribuição nas paredes deve buscar a valorização.

HIGIENE
Para lavar as mãos depois de usar os sanitários e antes das refeições, é preciso ter sabonete (ou alternativas, como sabão e detergente).

LIMPEZA
Noções de higiene só podem ser ensinadas se for possível praticá-las. Vasos com tampa e papel higiênico são itens obrigatórios. Sempre.

AUTO-ESTIMA
O espelho é importante para trabalhar a identidade e a afirmação do aluno, propondo que ele preste atenção em si mesmo.

LIVRE EXPRESSÃO
O mural no banheiro é um espaço para se expressar de forma anônima e sem censura. Com ele, a depredação nas portas das cabines tende a sumir.


Cidadania e Competitividade: Desafios Educacionais do Terceiro Milênio

Guiomar Namo de Mello

São Paulo, Ed. Cortez, 1994.
Prefácio de Simon Schwartzman
Educadora, pesquisadora, ex-secretária municipal da educação da cidade de São Paulo, ex-deputada estadual, assessora de projetos de reforma educacional no Brasil e no exterior, Guiomar Namo de Mello percorreu todos os caminhos que vão da sala de aula à organização dos sistemas educacionais, dos movimentos políticos contestatários às dificuldades do gerenciamento governamental, das teorias abrangentes sobre os problemas sociais e culturais do ensino aos estudos mais detalhados sobre o que passa no dia a dia na relação dos professores com seus alunos. Nesta travessia, suas idéias e percepções se alteram, mas, como ela nos diz na apresentação deste livro, não mudam suas preocupações, o compromisso com a necessidade de encontrar uma saída para as questões da educação brasileira, e a certeza de que, em última análise, é no contato direto do aluno com o professor, na sala de aula de onde partiu, que a batalha do ensino será vitoriosa ou perdida.

O entendimento que Guiomar Namo de Mello possui hoje da questão educacional, mais do que o resultado de um amadurecimento pessoal, corresponde a um consenso crescente entre os especialistas a respeito da natureza dos problemas educacionais em países e regiões menos desenvolvidas, e dos principais caminhos para sua superação. A existência deste consenso ainda não penetrou, como deveria, os sistemas educacionais como um todo, e por isto este livro deve provocar polêmica. Pela polêmica as idéias irão ecoando, chamando atenção para questões pouco entendidas, dissolvendo suposições e certezas empedernidas, e consolidando aos poucos um novo consenso com força suficiente para se impor, abrindo novos caminhos e perspectivas.
O primeiro ítem deste novo consenso é a importância estratégica fundamental da educação básica, sem a qual não seria possível tirar o país de uma situação de crescente marginalidade em relação ao mundo moderno. Há cada vez menos lugar, hoje, para economias baseadas no trabalho desqualificado e mal pago, na exploração abusiva dos recursos naturais e na produção de mercadorias massificadas e de má qualidade. Não se trata somente, pois, de que a educação tenha um papel central na formação da cidadania, dos valores morais e da capacitação das pessoas para uma vida digna e produtiva, como pensavam os educadores e líderes religiosos e políticos desde o século passado, que presidiram a universalização da educação básica nos países europeus. Nem de que a educação seja um simples correlato de estruturas e sistemas econômicos, gerando os profissionais que necessita em uns casos, mantendo as pessoas ignorantes em outros, e reproduzindo de forma inexorável suas desigualdades e mecanismos de exploração. Os vínculos entre a educação e a economia são tão ou mais fortes do que se imaginava no passado, mas a relação causal pode ser distinta. os sistemas educacionais, e a educação que as pessoas recebem, não são simples conseqüência do que ocorre na economia. Eles podem ser melhorados e transformados, e seu impacto econômico pode ser extraordinário.

O segundo ítem do consenso é a revalorização do processo de aprendizagem enquanto tal, e dos problemas relacionados a ele. A crítica à escola convencional se faz, usualmente, em relação a dois aspectos, a condição sócio-econômica dos estudantes, escolas e professores, e os conteúdos esvaziados e burocratizados dos procedimentos educativos. É claro que estudantes com fome e frio, forçados a trazer de qualquer forma algum dinheiro para a casa, sem uma estrutura familiar minimamente constituída, sem escolas ou em escolas caindo aos pedaços, e com professores ganhando salários de fome, não teriam como se beneficiar das melhores pedagogias. Daí a preocupação com a merenda escolar, com os serviços de assistência médica e odontológica, com a construção e a reforma de prédios, e com a melhoria dos salários dos professores. Daí, também, a preocupação com o contexto econômico e político mais amplo, do qual depende o emprego dos pais, o salário dos professores e o financiamento das escolas. Mas nem todos os estudantes vivem em situações tão extremas, nem todas as escolas estão tão destruídas, nem todos os professores ganham tão mal, nem todos os orçamentos educacionais são assim tão pequenos; e mesmo assim os resultados das escolas costumam ser desastrosos. A ênfase nos aspectos assistenciais e quantitativos da educação decorre, em muitos casos, de equívocos profundos, ou de interesses políticos e econômicos pouco confessáveis. Nem todas as crianças necessitam de merenda paga pelo governo, em muitas das principais regiões do país sobram escolas e professores no sistema público, mas existe uma indústria da merenda, da construção de escolas e do uso das verbas educacionais para fins político-partidários.
A nova ênfase nos problemas de conteúdo e de qualidade da educação foi reforçada, recentemente, pelos estudos e pela verdadeira cruzada pessoal de Sérgio Costa Ribeiro contra os conceitos tradicionais sobre evasão escolar, e em prol de um exame aprofundado dos problemas da repetência escolar. Por sua importância, não custa repetir os principais ítens desta cruzada. Exceto em alguns pontos isolados, o problema do acesso à escola não existe mais no país. Existem vagas suficientes, as crianças vão à escola, e normalmente permanecem nela até os 14 anos pelo menos. Seu aproveitamento, no entanto, é um desastre. Metade repete o primeiro ano, poucos conseguem concluir as oito séries da educação básica, e aprendem muito pouco das habilidades essenciais de leitura, escrita e aritmética elementar. Existe algo profundamente errado dentro da sala de aula, que faz com que os estudantes passem dias e anos em instituições que lhes dão muito pouco, e terminam, em muitos casos, por estigmatizá-los pelo fracasso e pela repetência.

Se sabemos agora aonde está o problema, existe menos acordo sobre sua verdadeira natureza, assim como sobre suas causas. A escola convencional tem sido criticada pelo seu conteúdo de classe, ao buscar transmitir aos estudantes mais pobres os valores, uma cultura e mesmo uma linguagem que não lhes são próprias, e sim das classes médias e altas com as quais os professores se identificam; e pelo próprio caráter opressor e impositivo embutido nas relações professor-aluno. Por isto os estudantes se desinteressariam, e não conseguiriam entender o que lhes é ensinado; ou, mesmo que aprendessem, isto lhes serviria de pouco. Daí as propostas revolucionárias: transformar cada professor em um militante, em um agente de transformação; substituir os conteúdos convencionais por elementos da realidade quotidiana do estudante; ensiná-lo em sua linguagem própria, pesquisada em cada caso, sem forçar um padrão erudito que lhe é alheio; e, no extremo, fechar a escola convencional, e transferir as funções educativas para a relação quotidiana da criança e do jovem com seus pais, vizinhos, e com os líderes de suas comunidades. Ou, de maneira menos radical, substituir a transmissão formalizada de conhecimentos por processos indutivos que estimulem a criatividade, o interesse e a iniciativa do estudante.

O consenso atual é que todas estas críticas contêm elementos de verdade, mas que as soluções apresentadas não parecem levar muito longe. Comparações entre experiências educacionais de diferentes países e grupos sociais ajudam a entender melhor o que ocorre. Filhos de imigrantes constumam ser mais bem sucedidos nas escolas do que muitos nativos, mesmo com grandes diferenças de língua e de cultura. Negar aos estudantes o ensino do padrão erudito da língua pode confiná-los em guetos étnicos e sociais, e impedir sua participação plena na sociedade mais ampla. A escola deve transmitir ao estudante uma tradição cultural pre-existente, consubstanciada não só em uma linguagem estruturada, mas também em um conjunto de informações compartidas por todos os membros de uma comunidade. Daí a necessidade de currículos estruturados, métodos pedagógicos afirmativos. O conhecimento se organiza em disciplinas, e isto deve ser transmitido ao estudante. A autoridade do professor em relação ao aluno não tem porque ser vista como autoritária; o professor é, efetivamente, mais velho, mais experiente, sabe mais, e deve constituir, para o aluno, um modelo e um exemplo que ele espera, e cuja falta ressente.

Ainda que possam haver discordâncias quando a aspectos específicos das pedagogias e dos formatos mais adequados para uma educação bem sucedida, todos concordam que a escola tem que ser um ambiente agradável e receptivo, e o professor deve estar presente, motivado, ter tempo e condições de trabalhar com os estudantes, e dispor de materiais pedagógicos adequados. É possível dizer que, se estas condições estiverem dadas, a educação é bem sucedida com praticamente qualquer pedagogia que seja utilizada, para a grande maioria dos estudantes. Como é possível fazer com que a escola tenha estas características?

É aqui que entra a verdadeira revolução copernicana que Guiomar Namo de Mello discute na segunda parte deste livro: se trata de colocar a escola - e não mais o governo, a secretaria de educação, os professores, ou mesmo os estudantes e suas famílias - na liderança da atividade educacional. Isto significa dar à direção das escolas a liberdade, as condições e os estímulos para tomar iniciativas, zelar pelo funcionamento quotidiano da instituição, buscar apoio e recursos na comunidade mais ampla. É esta a verdadeira descentralização educacional que deve ser feita, muito diferente da transferência de responsabilidades dos estados aos municípios: se trata de transferir verbas e poder de decisão sobre currículos, orientações pedagógicas e seleção ou demissão de professores às próprias escolas, e mais especialmente à sua direção.
Mas quem garante que a direção das escolas fará bom uso destes recursos? Existem dois mecanismos para isto, sem os quais todas as experiências de autonomia das escolas correm o risco de fracassar. Primeiro, é necessário que os resultados do trabalho das escolas sejam constantemente avaliados segundo critérios bem definidos e comparáveis, para que todos - direção, professores, estudantes, famílias, comunidades, governo - saibam o que está sendo conseguido ou não; e segundo, que todos os participantes sejam informados dos resultados desta avaliação, e estimulados a estimular e influenciar as escolas para que obtenham resultados cada vez melhores. A autonomia das escolas deve ter dois parâmetros simultâneos, um dado pelos sistemas de avaliação comparada de resultados, que deve ser promovido pelos governos, e outro pelo controle da comunidade, que deve ter condições de exigir resultados e mesmo, quando fôr o caso, forçar a mudança na direção das escolas. O instrumento fundamental para a avaliação dos resultados das escolas são os testes padronizados de conhecimento, que podem ser aplicados tanto a estudantes quanto a seus professores. Devidamente utilizado, um sistema de testes permite identificar resultados positivos e áreas mais problemáticas, dirigir recursos para onde sejam mais necessários e premiar o bom desempenho. Existe muita polêmica sobre o uso de testes nos sistemas educacionais, que não seria o caso de reproduzir aqui. Basta dizer que, como a democracia, os testes são instrumentos problemáticos, mas são insubstituíveis se quizermos saber aonde estamos, e que caminhos devemos seguir para sairmos da situação extremamente crítica em que se encontra na educação brasileira. Nada disto é simples, mas tampouco chega a ser novidade para os países que já conseguiram ou estão conseguindo superar os impasses mais graves da educação básica. A revolução copernicana aqui proposta não significará o fim de nossos problemas, mas o ingresso em um outro patamar de realizações, questões e dificuldades, para os quais a competência profissional, o talento e a dedicação de Guiomar Namo de Mello, e de tantas outras educadoras e educadores que ela representa, continuarão sendo indispensáveis.