domingo, 11 de dezembro de 2011

A Importância Do Contexto Cultural


Este texto pretende contribuir para a discussão dos aspectos culturais e para tanto são abordados os aspectos históricos da cultura e cidadania, os quais terão pressupostos na construção do ser cidadão em contexto ao meio cultural, como fator contribuinte para a formação cidadã, ou seja, as influências culturais na sociedade decorrentes no processo do sujeito histórico; e o ser humano como um ser protagonista da produção cultural, como construtor da sua própria rede de cultura, das modificações sofridas no contexto social com o decorrer do processo.
2. CULTURA E CIDADANIA: Aspectos Históricos
 “Nós humanos fazemos parte da natureza. Comemos, bebemos, respiramos, temos filhos, envelhecemos. (...). Porém apenas os seres humanos são capazes de produzir cultura”. (SCHMIDT)
O termo cultura, segundo Luft (2005), perante um conceito antropologista significa “conjunto de experiências humanas (conhecimentos, costumes, instituições, etc.) adquiridas pelo contato social e ábumuladas pelos povos através dos tempos” (p. 250). Desde os primórdios que a existência cultural contribui para os paradigmas da existência humana como sendo refletida nas atitudes e habilidades desenvolvidas pelo homem. “No sentido antropológico do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no contexto de uma cultura, não existindo homem sem cultura” (BRASIL, 2001, p. 43). A cultura está inserida no contexto social desde o momento em que o ser é concebido, todos os valores e códigos reconhecíveis pelo grupo social são apreendidos, principalmente durante a infância em que a criança tem mais sensibilidade para abduzir desses códigos, sendo mais tarde introduzido na vivência adulta, da mesma forma em que cada grupo a formaliza (BRASIL, 2001).
Na Idade Antiga é com os gregos que a civilização torna-se um berço para as questões culturais, principalmente no campo da filosofia, no surgimento da matemática, do teatro, da língua poética, em que esses são apenas alguns dos muitos exemplos de como a civilização ocidental, atualmente desenvolvida nos blocos de primeiro mundo acolheram influências importantíssimas advindas da Grécia Antiga, do grande berço da civilização (SCHMIDT, 1999), no que se refere as questões da razão (forma de pensar), concepção de beleza, da forma de ver o mundo. A cultura é um termo em diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade, São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço. Se refere a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identifica uma sociedade. Explica e dá sentido a cosmologia social, é a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período (WIKIPÉDIA, 2008).
Durante o período medieval, com a ascensão do cristianismo as sociedades medianas viviam sobre os regimentos da igreja, em que até mesmo a filosofia medieval tinha como filósofos mais importantes os que estavam ligados à igreja, ou seja, os grupos da época exibiam códigos que eram concebidos e estruturados pelo poder do clero, da igreja, tendo como base o cristianismo. No contexto educacional, as crianças eram vistas como adultos em miniaturas. Os responsáveis pela educação (igreja) disciplinavam as crianças em conjunto aos adultos e da mesma forma para todos, e as crianças como construtoras da própria cultura e sensíveis a recepção e percepção do que está a sua volta reproduziam os hábitos, costumes e valores da mesma forma que os pais e o grupo social em que conviviam. “O cristianismo proporcionou aos europeus da Idade Média o sentimento de que pertenciam à mesma civilização. O homem medieval era muito religioso e obediente à igreja. Toda a vida cultural girava em torno dos temas religiosos” (SCHMIDT, 1999, p. 260).
A igreja constituiu-se forte durante muito tempo, mas com o advento da tecnologia, as transformações que decorrem ao longo do processo histórico, essa influência da igreja sobre a cultura e o pensamento das pessoas, conhecido como teocentrismo cultural, aos poucos vai saindo dos dogmas da igreja, passando a centralizar nos novos valores culturais. Ao longo do processo, com o grande avanço das máquinas suplantando o trabalho humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, um fenômeno de manifestações culturais conjuntas contribuídas pelas camadas populares, em que nesse contexto as questões artísticas e propriamente culturais tiveram submersão quanto aos novos movimentos de transformação que mudariam a economia e as relações mundiais, o que chamamos de capitalismo, termo utilizado por Chauí (2002) como indústria cultural, que baseava-se na estrutura ideológica e na praticidade consumista da produção cultural.
Concomitante ao processo de mudanças decorrentes no mundo surge uma contradição do capitalismo com o que chamamos de cidadania, em que o primeiro é favorável apenas à minoria da população, tendo que existir a camada popular de baixa renda (operários), já a segunda atende a constituição e a vários acordos e estatutos em que todos devem ser iguais e ter os mesmos direitos, ser cidadãos. O contexto relevante à cidadania tem surgimento na Idade Antiga, período em que apenas os homens eram reconhecidos como cidadãos, pois eram proprietários de terras e trabalhavam com a mesma, sendo também considerados os donos da casa. Já na Grécia Antiga, com os almejos de Platão e Aristóteles, eram cidadãos aqueles que participavam ativamente das atividades sociais, que discutiam os assuntos e problemas, que opinavam e até mesmo discordavam de algumas tendências, não havendo necessidade alguma de trabalhar para sustento da família, é tanto que os proprietários de terras não se enquadravam mais como cidadãos, assim como também mulheres e artesãos.
Na Idade Média a questão cidadã segue parâmetros já mencionados, em que a igreja fazia a monopolização dos dogmas, portanto os cidadãos reconhecidos como tais faziam parte do clero, nenhum homem medieval que fosse servo, vassalo, da camada mais baixa seria um ser cidadão.  Com a decadência do império o contexto cidadania só ganha créditos durante a modernidade, em que uma das inovações foi justamente a inserção das palavras cidadão e cidadã como símbolo da igualdade de todos.
Neste período as mulheres já passam a serem realçadas como partícipes nas movimentações políticas e sociais, ocorrentes durante a Revolução Francesa. Para tanto, foi publicado um documento intitulado como Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que objetivava com caráter universal, direitos a igualdade e liberdade para todos, contando ainda com respaldos fundamentais constando como direitos (DALLARI, 2004, p. 20).
Atualmente o conceito de cidadania, apesar de conceitualizado, ainda compõe alterações, transformações. Com a implantação da Constituição e com a mais atual de 1988, tratando-se de Brasil, “assegura aos cidadãos brasileiros os direitos já tradicionalmente reconhecidos, como o direito de votar, de se candidatar. (...), sendo importante assinalar que essa Constituição ampliou bastante os direitos da cidadania” (DALLARI, 2004, p. 24). Esses valores que são exercícios práticos do nosso dia-a-dia são indícios para o nascimento da cidadania, é a partir destas vivências que vão sendo construídos nossos direitos e deveres, os quais devem ser respeitados pressupondo defesas de relações dignas.
O respeito à cidadania pressupõe a defesa da dignidade humana – contra a violência, a exploração e a miséria – para todos, sem exceção. Trata-se do reconhecimento universal de que, em razão dessa radical igualdade, ninguém – nenhum individuo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou nação – pode afirmar-se superior aos demais. A observância dessas idéias, no entanto, nem sempre norteou as relações sociais e de poder entre as pessoas (ALVES, 2007, p. 10).
É a partir desse contexto que se imbricam como importantes na concepção da formação cidadã os aspectos culturais, envolventes e relacionados a todo e qualquer tipo de sociedade, levando em consideração as diversidades existentes. Todas as sociedades possuem história, características e costumes, crenças, hábitos, que são relativos a cada sociedade, o que temos como cultura, pois, esta é uma relação que acontece com a natureza e entre si, o ser humano é produtor de cultura e formador da cidadania, isto é, insere e se insere entre valores, normas de conduta, manifestações artísticas, religiosas, etc (FERREIRA, 1995). A percepção de relação entre cultura e cidadania se faz importante até mesmo para analisar melhor o contexto da sociedade atual, que deriva de fatores importantes e contribuintes da historicidade humana, pois se deve levar em conta que a humanidade está inerente a seu contexto cultural, ao seu modo de vida, e a partir desta razão o ser humano pode ser contribuinte e formador de seus próprios conceitos enquanto cidadão e enquanto ser que produz cultura, o ser humano é a sua estruturação participativa com a sociedade, desenvolvendo-se em meio ao contexto vivenciado.
3. O SER HUMANO COMO PROTAGONISTA DA PRODUÇÃO CULTURAL
As ocorrências que permeiam a sociedade em seus aspectos culturais se estruturam mediante as transformações que o ser humano faz em sua camada social, atuando como construtor e mediador de cultura. Enquanto construtor o ser humano atua nas ações que estreitam as sociedades em seus contextos culturais, como crenças, religiões, e etc., viabilizando mudanças e respaldando-as para que a sociedade adentre nesse relacionamento, focalizando as estruturas de comunicação e de ação social conjunta para a formação de um cidadão com características próprias e apto a mudanças. Enquanto mediador possibilita o conhecimento cultural através das construções e usa as mesmas como ensinamentos e fundamentos que percorrem por todas as gerações, sendo adaptadas para cada grupo e época, de acordo com as transformações da natureza e do próprio ser humano. Para tanto, tais relações se apresentam de forma diferenciada em distintos aspectos, pois dentro de um mesmo grupo pode existir costumes, hábitos e crenças diversas, pluralizando o contexto cultural da sociedade, que por conseqüência contribui beneficamente para outras culturas e vice-versa, estabelecendo uma relação estável, sem constrangimentos, de inter-relação perante os grupos (METODISTA, 2009).
O ser humano em seu meio histórico, de vivência, consegue transformar o ambiente, assim como a sua forma de agir, de pensar, de lidar com diversos fatores e situações de necessidades que são constituídos por si próprio. Essa diversidade de elementos que constituem uma sociedade, que se delimita como cultura não surge do nada, apesar de ao inicio o ser humano ser produto cultural, cultura é construção, é produto que advém do ser humano, pois, Ao nascermos somos um ser não cultural. Quando crescemos transformamo-nos em indivíduos membros do grupo onde estamos inseridos, condicionados pelos valores e normas do seu grupo, adquirindo assim os seus modelos de comportamento. O homem torna-se assim produto da cultura onde está inserido, que por sua vez vai acrescentar as suas contribuições tornando-se assim produtor de cultura (FOUNDATION, 2009).
Seguindo esse pensamento percebe-se o quanto a cultura se faz importante na vida do ser humano, desde quando é considerado como objeto de cultura, até o ponto em que suas transformações são contribuintes para a produção da mesma, propiciando assimilação, desenvolvimento e adequação do ser, assim como possibilitando estímulos para transformar aquilo que o compõe historicamente, em seus respectivos períodos de desenvoltura e também em seus aspectos culturais referenciados para cada grupo em uma camada social com distintos valores culturais.
Em se tratando da diversidade cultural, focalizado numa estrutura de idéias de docentes e discentes de um projeto assistencial (Projeto Cidadão do Amanhã), foi possível destacar as grandes dificuldades de se conceber um papel de socializador e mediador de cultura, assim como perceber cada aluno em seu respectivo papel de agente multiplicador cultural, pois para os docentes a multiplicidade de fatores do grupo social vivenciado por cada aluno torna o papel de socializador mais difícil, justamente por ter que compreender e aceitar o modo de vida de cada um, percebendo seus costumes, hábitos, crenças, que são características de um povo. Contudo, o PCA (Projeto Cidadão do Amanhã), tem uma forte contribuição na sociedade, principalmente na camada social de baixa renda, pois a partir do que se conhece dos discentes matriculados no mesmo, as vertentes do contexto pedagógico e cultural são estruturadas com cunho de sistematização e aperfeiçoamento das teorias e práticas tanto esportivas quanto culturais, visto nas oficinas de cultura regidas na proposta de trabalho deste projeto. O projeto também “permite uma interação com a cultura regional e até mesmo contribui para que os alunos possam mudar a cara de nossa cidade com a expansão da mesma através das manifestações culturais existentes” (Rafael Pereira, professor de dança folclórica no PCA), e tal interação promove e interfere diretamente no pensamento e formação do educando quanto a propagação do trabalho desenvolvido, pois muitos dos cidadãos que atuaram no PCA atualmente tem se auto-profissionalizado perante a estruturação básica sistematizada,  estabelecendo assim elos com o PCA e focalizando seu trabalho a partir do que foi concebido, ou seja, parte dos alunos deste projeto estão no mercado de trabalho fazendo aquilo que aprenderam, almejando especializações no ramo artístico-cultural.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo histórico do ser humano está pautado na pluralidade cultural que se insere no mundo. Todo seu conhecimento é baseado no contexto cultural, em que a família do indivíduo socializa para com o mesmo objetivando o conhecimento sobre as práticas e vivências daquele povo. O indivíduo com a vivência e experiências que atua vai se desenvolvendo, se modificando e estruturando seu próprio pensamento sobre os valores, regras, crenças e costumes repassados para o mesmo pelos pais, pelo grupo, pela sociedade que o rodeia, e dessa forma vai inserindo sua próprias características de pensamento e prática. A sociedade sofre constantes transformações, assim como todo o universo, tendo que se adaptar as modificações do meio, que são construções do ser humano, criando necessidades, problemas e soluções. Cabe ressaltar que se deve levar em consideração que o ser humano tem suas peculiaridades e tem por obrigação respeitar o próximo, sabendo delimitar seu campo de origem, cultural, assim como de outros diversos grupos sociais, com múltiplas características e costumes, adentrando nesse ponto a cidadania, com seus atributos de deveres e direitos sociais, que se respaldam na Constituição.
Portanto, os aspectos culturais que se imbricam na sociedade contribuem e são de suma importância para a estruturação do ser humano, na investida do mesmo para as políticas públicas, com o dever de cidadão, que tanto são mencionados ao ser humano enquanto objeto de cultura, que se estrutura, se modifica e conseqüentemente produz cultura, sendo o protagonista desta ação.
REFERÊNCIAS
ALVES, Ciara Núbia de Carvalho. Cidadania: uma conquista de todos. Recife: Prazer de Ler, 2007.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural: orientação sexual / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. – 3. ed. – Brasília: A Secretaria, 2001.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. 2. ed. Reform. São Paulo: Moderna, 2004.
FERREIRA, Roberto Martins. Sociologia da educação. São Paulo: Moderna, 1995.
FOUNDATION, National Patient Safety. O homem como produto/produtor. Disponível em: http://npsf0.tripod.com/new_page_4.htm Acesso em: 21 de jan de 2009.
LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. – 21. ed. – São Paulo: Ática, 2005.
METODISTA, Universidade de São Paulo. Cultura : uma produção e um direito humano. Disponível em: http://www.metodista.br/catedracidades/publicacoes/boletim/09/cultura-uma-producao-e-um-direito-humano/ Acesso em: 21 de jan 2009.
SCHMIDT, Mario Furley. Nova história crítica. 2. ed ver. e atual. São Paulo: Nova Geração, 2002.

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