segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Relações interpessoais na formação do educador

Relações interpessoais na formação do educador

O Desenvolvimento Interpessoal vem a ser, nos tempos contemporâneos, um desafio e uma necessidade para todos aqueles que atuam no amplo campo da Educação, quer na ação direta em salas de aulas, quer na gestão de projetos educacionais em organizações escolares e não escolares, configurando-se um instrumento de ampliação de competências para o exercício das funções profissionais do Educador.
Muito se tem dito e escrito sobre a arte dos relacionamentos – de cantos e desencantos, vamos tropeçando no outro e, quase sempre, em nós mesmos, na trilha comum de nossas vidas. Clamamos por entendimento, atribuímos ao próximo a causa dos nossos fracassos e, muitas vezes, consideramos, junto com Sartre, “que o inferno são os outros”... O nosso “grande poetinha” – Vinícius, sua bênção! – já dizia: “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”... E vamos seguindo trôpegos, claudicantes, no afã de sermos compreendidos nas intenções e ações de cada dia. Os nossos jovens educandos solicitam mais, muito mais, do que informações. Solicita atenção, estabelecimento de vínculos, atendimento às carências que, muitas vezes, bloqueiam sua capacidade cognitiva e retardam o aprendizado.
Conduzir uma sala de aula requer competências básicas que não podem ser desconsideradas. Ser professor exige saber, saber fazer e, sobretudo, saber ser. A dimensão saber é, talvez, a mais valorizada nos meios educacionais – é a competência técnica, que simboliza o domínio dos conteúdos básicos, das diferentes áreas do ensino e do fazer profissional.
A competitividade do mundo contemporâneo, as transformações céleres dos conhecimentos, as novas tecnologias que surgem em espaços curtos de tempo e a necessidade de constante atualização nos impulsionam ao estado de além, na busca por uma aprendizagem continuada. Afinal, os nossos alunos merecem, e esperam de nós, informações atuais – o tempo não espera! As verdades universais estão em revisão e novos paradigmas surgem como respostas a novos desafios.
O saber fazer, em nossa área de atuação, fala da habilidade da comunicação. Qual a linguagem de acesso para a facilitação da compreensão dos conteúdos da minha disciplina? Quais os canais sensoriais mais sensíveis à recepção das informações? Como apresentar os dados da informação de modo a significá-los e oportunizar a sua transformação em conhecimentos? Que recursos podem ser mobilizados para fazer do meu tempo de aula um momento prazeroso na vida atribulada de tantas pessoas que, na maior parte das vezes, chegam à universidade após um dia exaustivo de trabalho? São questões cruciais no fazer profissional de um professor que se pretende ser mais que um mero transmissor de informações. Por outro lado, o que dizer da dimensão saber ser? Talvez, aqui resida o grande diferencial - saber ser pessoa junto a outras pessoas. Perceber-se como mediador de relações interpessoais significativas. Acreditar-se ensinante e aprendente, porquanto aprendente e ensinante somos nós e os nossos alunos, nas relações que se desencadeiam entre as quatro paredes de uma sala de aula. Ser ou tornar-se pessoa, nas trocas pedagógicas – eis o grande desafio do ser professor!
É nosso objetivo focar as relações pessoais – interpessoais e sociais – em sala de aula, com toda a carga de afetividade que reflete desejos, expectativas, motivos, intenções, crenças, valores, parcerias, cooperação, competição que, juntos, compõem os movimentos de seres em interação, nos quais educando e educadores se desenvolvem como pessoas e personalidades, afetando-se reciprocamente uns no desenvolvimento dos outros.  Nesse sentido, trabalhar o desenvolvimento interpessoal na formação de educadores significa, em primeira instância, reconhecer que as interações humanas têm repercussões significativas na aprendizagem e no desenvolvimento dos sujeitos delas participantes – “há um sentido de parceria e cumplicidade nessa troca interpessoal, na qual a construção e a transformação do conhecimento ao mesmo tempo constroem e transformam os sujeitos da relação” (PLACCO, 2002, p.11).
Sabemos o quanto a qualidade de uma primeira impressão pode facilitar (ou dificultar) as relações interpessoais posteriores. A comunicação e as atitudes, fatores de importância vital nos relacionamentos, são afetadas, positiva ou negativamente, em decorrência da percepção social inicial, o que nos leva a destacar os sentimentos positivos de simpatia, como propulsores de aproximação, colaboração, entendimento, tanto quanto os de antipatia podem ser geradores de afastamentos, indisposição ou rejeição. Quando ficamos restritos e limitados às primeiras percepções sociais (primeiras impressões), podemos incorrer no erro de impedir que o outro se revele em sua verdadeira face, empobrecendo o encontro ou favorecendo o desencontro. Esta constatação nos leva a considerar a importância da abertura e disponibilidade para o outro que chega à nossa vida, como primeira possibilidade de relações significativas.
Relacionamento interpessoal pode tornar-se harmonioso e prazeroso, permitindo trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias, conhecimentos e experiências para um produto maior do que a soma das partes, ou seja, a tão buscada sinergia. Ou, então, tender a tornar-se muito tenso, conflitivo, levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e crescente deteriorização do desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo, diz Moscovici (1998, p. 35).  Enfim, é foco de uma proposta de  desenvolvimento interpessoal, ainda, sinalizar que o interjogo entre “interações – sentimentos – atividades - clima grupal - modalidades de relacionamentos - produtividade” está relacionado não com a competência técnica das pessoas e, sim, com suas competências interpessoais.
Conviver é viver com. Educar é conviver, partilhar a vida, as experiências, os objetivos comuns, as projeções para o futuro... Portanto, educar simboliza um momento extraordinário de vida, principalmente em se considerando a partilha dos bens imateriais de nossa cultura: respeito ajuda mútua, conhecimentos, alegria, disponibilidade, amor... Se em todo o grupo humano existe a necessidade da convivência, em educação não fugimos a essa realidade comum.
 Portanto, é imperioso que os educadores percebam a importância do aprender a conviver e esse processo de aprendizagem aponta no sentido do desenvolvimento da dimensão humana nos relacionamentos interpessoais. O mundo é pródigo em peritos e técnicos, em experts e doutores... Mas, onde estão as pessoas? Pessoas que sentem, emocionam-se, trocam experiências, escutam empatizam, alavacam e estimulam. Pessoas que não têm medo de serem pessoas – falíveis, incompletas, frágeis, titubeantes. Pessoas que não se enaltecem com as próprias luzes, mas que as transformam em lâmpadas a iluminarem o caminho dos que se encontram na mesma estrada, da qual somos, todos, iguais caminheiros. Pessoas que não sucumbem às sombras, mas têm a coragem de trazê-las à luz da consciência, no compromisso de trabalhá-las, em prol do próprio crescimento, na crença da auto-superação possível. Ah, quem me dera encontrar entre os parceiros da Educação mais pessoas e menos experts!!! Quem me dera, um dia, perceber entre as disciplinas de um curso de formação de professores, o desenvolvimento interpessoal no mesmo patamar de valorização e importância do desenvolvimento em novas tecnologias e recursos de ensino!!! Talvez, mediados por facilitadores da aprendizagem, os nossos alunos pudessem vir a serem pessoas mais integradas e integrantes, capazes de humanizar as salas de aulas, transformando e “bonitando” a nossa profissão...
Utopia não é o irrealizável – é o ainda, não realizado! Portanto, vale a pena sonhar,,, E, nesse sonho, atuar – razão desse artigo e de sua divulgação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOCK, Ana Mercês Bahia (org). Psicologias – Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal – Treinamento em Grupo. 8 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.
PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza & ALMEIDA, Laurinda Ramalho. As Relações Interpessoais na Formação de Professores. São Paulo: Loyola, 2002.
PARIKH, Jagdish. Administrando Relacionamentos. São Paulo: Cultrix, 1999.
TATAGIBA, Maria Carmen & FILÁRTIGA, Virgínia. Vivendo e Aprendendo com Grupos – Uma Metodologia Construtivista de Dinâmica de Grupo. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002


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