quinta-feira, 19 de maio de 2011

COMO CONSTRUIR UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA

João Everton da Cruz
A igualdade entre os participantes da gestão da escola é a condição mais importante para se pensar à possibilidade da participação e da democracia. Sem o mínimo de igualdade é impossível pensar a participação e a democracia em sua configuração prática. Poderemos tê-la no mero discurso ou na utopia, mas na prática só se tornará possível pela igualdade entre pessoas. As matrizes da igualdade, da participação e democracia, têm o seu nascimento com a sociedade dos gregos. Entre eles, a igualdade entre as pessoas era problemática. Os iguais, por serem tão iguais, viviam em busca do desigual, do extraordinário. Assim, o espaço da convivência constituiu-se como o lugar do extraordinário através da sofisticação dos discursos persuasivos em busca do destaque de cada orador. Aí se dava a única diferença entre as pessoas, pautada pela competência, no mesmo nível da “Situação ideal de fala”. (Cf.: Habermas, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio, Tempo Brasileiro, 1989, p. 89.). O desigual era sinônimo de melhor, mas competente, mais sedutor. Deveria ser seguido pelos outros.
 Já para Aristóteles era impossível pensar-se uma boa convivência. Não concebia o bem comum numa sociedade polarizada, ou seja, em que os extremos se distanciassem muito: o mais rico muito distante de mais pobre, o mais culto do mais estulto, o mais velho do mais novo, o mais poderoso do menos. Seria preciso construir uma sociedade em que se plantasse o ponto mediano , pois a virtude está no meio.
Uma reflexão sobre a relação entre a cidadania e democracia, remontando-se à democracia como um verdadeiro trabalho dos seres humanos nas suas relações sociais. A democracia não pode ser comprada nas urnas eleitorais. É preciso pensar nas possibilidades de se viabilizar a democracia. Esta poderá ser uma das melhores formas de governo se, e somente se, for constituída por uma sociedade de cidadãos.
Maquiavel ao definir a política como “ciência do poder”, apreendeu que a vida política resume-se na busca de poder e na luta do poder pelo poder. Porém, o ser humano não se resume ao nível do ordinário somente. O ser humano é também extraordinário por que trabalha. Em nível da extraordinariedade destaca-se a insatisfação do ser humano com as coisas estabelecidas.
Na modernidade, esta insatisfação acontece com o poder estabelecido para favorecer poucos. Nem sempre, porém, os seres humanos conseguem elaborar a sua insatisfação, sabendo apenas que as coisas não vão bem, mas o que fazer sem sempre se sabe. Perguntamos: O que fazer? Quais os passos para a constituição de cidadania, participação e democracia?
Sabemos que a modernidade criou a figura da representação. Pois bem, falar de democracia, no seu sentido originário, é falar de democracia direta, como pensavam e queriam os gregos. A presença de qualquer representação macula esse conceito. Continua o problema. Como se pensar uma democracia direta em sociedade complexas como a moderna? Rousseau já tinha visto que é preciso pensar a democracia direta e vislumbrou algumas características particulares:
1. Existir um estado muito pequeno, no qual fosse fácil reunir o povo.
2. Evitar acumular questões e discussões difíceis, espinhosas.
3. Bastante igualdade entre as classes e as fortunas.
 4. Pouco ou nada, ao mesmo tempo para o rico e para o pobre, um movido pelo desejo de posse, o outro pela cobiça. Estamos distante de uma possibilidade de se estabelecer uma democracia direta. É o papel central de educação, descortinar horizonte, tendo em vista o bem comum, processo de longa duração, mas “utopia possível”. Um povo consciente saberá tomar decisões por si mesmo e para si. Trata-se, aqui, de uma conscientização cívica, a ser difundida pelos meios de comunicação, através de formadores de opinião.  No ato de viabilizar esse processo seria um problema complexo. O poder estabelecido colocaria barreiras. Mas, da parte do povo, a consciência de seus deveres e de seus direitos está exigindo uma educação política para a cidadania. Cabe, ainda, elaborar a esperança, como um produto de valor educativo-depurador do sofrimento dos excluídos. Sugestões pedagógicas para a construção da gestão democrática da educação. “Primeiro, deve-se montar algo parecido ao antigo programa da Rede Globo, Você decide na sala de aula, abordando uma decisão política. Sensibilizar os estudantes, anteriormente, a respeito do tema em questão.
 Segundo, sugerir aos estudantes que façam uma pesquisa sobre o interesse do povo nas questões políticas, sua visão sobre os representantes políticos e seu desejo de mudanças políticas, procurando medir o nível de consciência do povo.
Terceiro, trazer de volta o teatro para dentro da escola, dramatizando com um grupo de estudantes a democracia grega e com outro a corte do príncipe de Maquiavel. Compará-los com a modernidade e a possibilidade de superação da modernidade.
Quarto, oferecer elementos para um novo exercício da política a partir do pobre e do excluído. Quinto, clarear ao máximo, a ligação da política com o cotidiano das relações comunitárias e eclesiais.
Sexta e última, estimular a militância política e o exercício de cargos políticos, revisando permanentemente a prática do poder. A gestão democrática é fundamental para a definição de políticas educacionais que orientam a prática educativa, bem como revitaliza os processos de participação, dentro dos parâmetros definidos no “chão” da escola pública e é um canal no processo de democratização, na medida em que reúnem diretores, professores, funcionários, estudantes, pais e outros representantes da comunidade para discutir, definir e acompanhar o desenvolvimento do Projeto Político-Pedagógico da Escola.

Nenhum comentário: