quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Brasil de 2020


O futuro nos interroga. O que esperar do Brasil
em 2020? Existem três formas básicas de se tentar preencher
o vácuo do futuro. A previsão trabalha com a noção de
provável e responde à pergunta: o que será? A delimitação do
campo do possível opera com a idéia de exeqüível e responde
à pergunta: o que pode ser?
E a expressão da vontade trabalha com a noção de
desejável e responde à pergunta: o que sonhamos ser? As
relações entre esses três modos de conceber o futuro não são
triviais. Se o desejável é não respeitar os limites do possível,
ele se torna vazio e quixotesco (quando não trágico). Mas
isso não é tudo. No universo das relações humanas, tanto o
exeqüível como o provável dependem muito da força e da
competência do nosso querer. Se o sonho desligado da
realidade não vinga, a realidade desprovida de sonho definha.
Dezessete anos nos separam de 2020. Seria utópico
(no mau sentido) imaginar que o Brasil conseguirá, nesse
curto intervalo de tempo, superar por completo as suas
mazelas de ordem material. Temos 503 anos de história pelas
costas. Nossos problemas seculares de convivência
prática — saúde, educação básica, privação, violência e
desigualdade — não se prestam a curas milagrosas e
arroubos voluntaristas. Grandes avanços, é claro, podem e
devem ser feitos. Mas não existem atalhos.
Um Brasil 2020 que mereça ser sonhado não pode
ser mera fabulação da imaginação caprichosa. Ele precisa
partir do que efetivamente somos — das virtudes e dos
defeitos que se entrelaçam em nosso destino de nação.
Ele precisa reconhecer os limites e condicionamentos
herdados do passado para traçar o mapa do que podemos e o
norte do que sonhamos ser.

Eduardo Giannetti. In: Ícaro Brasil, jun./2003, p. 26-30 (com adaptações).

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